O frio quase matando! Alto da serra de São Martinho da Serra, no Rio Grande do Sul.

Dona Imilda é uma mulher simples, muito religiosa e muito lépida em seus 73 anos. Vive só, num enorme casarão herdado de seus pais de criação.

Como a “Pousada” do seu Roque (o Vice-Prefeito) ainda não está pronta, ela me acolheu em sua casa. A “Pousada” tem um “banheiro” do lado de fora da casa, e um salão com divisórias baixas num salão comprido. De um lado três camas de solteiro, de outro uma de casal, mais uma de solteiro. Na sala ao lado algumas cadeiras plásticas que eles chamam de sala de visitas, e mais a frente um fogão e uma mesa que chamam de cozinha. Então, por sorte, ela me recebeu num quarto fechado com três camas de solteiro, um criado-mudo, um armário e uma cadeira com uma tv em cima. Banheiro dentro de casa.

Agora no meu kit viagem ao Sul, além de coisas inenarráveis sou feliz possuidora, de um aquecedor elétrico, sem o qual eu não estaria viva para escrever está história: menos tres graus duante a noite e um grau ao meio dia!

Além do bom papo da noite quando volto de um dia sempre cheio de problemas diversos de trabalho, pela manhã, na hora do café ela fica servindo um café mantido quente no fogão a lenha (aos poucos para não esfriar) e contando suas histórias.

Dia desses sentei-me na cozinha, rindo da minha repetição e disse a ela que pela centésima vez iria precisar arrumar alguma ferramenta para quebrar um cadeado da minha mala. Vez por outra tranco a mala com a chave dentro, como fiz agora.

Sem se importar, ela correu para um quartinho no quintal e voltou com um molho de chaves de todos os tipos e tamanhos para que eu tentasse abrir o cadeado. Fazia dois dias que a mala estava trancada, pois o frio está tão grande que a necessidade de roupas limpas é quase zero. Nem as troco para dormir.

Tentei todas as chaves, até as um pouco maiores... Mas nada. Voltei à cozinha frustrada e já de mochila na costa, pronta para sair para o trabalho. Comuniquei a ela que voltaria na hora do almoço com o Beto (professor da Oficina) e alguma ferramenta para abrir o cadeado. Ela nem me deu ouvidos e respondeu:

- Santo Antônio vai abrir sua mala!

Voltei ao meio-dia com o Beto trazendo um alicate de pressão e um arco de serra. Fomos entrando e chamei por dona Imilde. Ela lá do fundo da outra sala respondeu:

- Não precisa mais! Santo Antônio abriu sua mala!

Paramos atônitos, o Beto e eu!

Em cima da mesa da sala havia um cadeado bem maior que o meu. Fechado. Ela disse ser da mala dela. A chave dele havia aberto meu cadeado e que agora não abria mais o cadeado dela. Corremos até meu quarto e vimos o meu pequeno cadeado aberto. Procurei em minha mala pelo meu chaveiro onde estava a tal chave.

Ela agora abre cadeado da dona Imilde e não abre mais o meu.


Junho de 2008, frio inclemente e trabalhar com muita água nos equipamentos da Oficina de Pedras só mesmo por amor.


Emoção: No dia do Forum de Artesanato Mineral - que trouxe autoridades e profissionais do Brasil todo e dos diversos Ministérios que apoiam nossos trabalhos, dona Ruth Cardoso faleceu. Homenagem sincera: ela transformou para sempre nosso trabalho de geração de ocupação e renda, abandonando a idéia de assitencialismo e construindo a cidadania.



4 comentários:

Unknown disse...

mais de 40 acessos mundotamer.blogspot.com

Karina Achôa disse...

Recebi e compartilho com vocês:
Querida amiga,

Espero que td esteja bem com vc.

Que beleza seu caderninho de viagem...experiência maravilhosa...adorei!!!
Para variar, continuo na correria aqui e muita insônia.
Se cuide!!!
Bjão,
Carmen Dea Brandão Caiado

Lucia Fontes disse...

Adorei este, Ka!!! Beijos, Lu!

Karina Achôa disse...

Recebi e compartilho com vocês:
Oi Karina,

Que viagem !
Adorei seu blog, super informativo e gostei muito do seu estilo de escrever.
Vou visitar mais vezes !

Um beijo!
Carmen Lombardi

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