Christmas pudding



Nasci em Bauru e mudei para São Paulo perto dos dezessete anos – sem comentário de quanto tempo faz, ok!? Então ir para lá se tornou uma viagem: de férias, para as festas; por saudade.

Até pouco tempo ainda tive minha avó Juju – que nos deixou aos 102 anos!! Ela era uma “novidadeira” de primeira. Saía pouco de casa, mas sempre encontrava uma novidade na moda, uma receita diferente numa revista, na televisão.

Ela, sabendo da minha disposição e disponibilidade para com ela ia logo me dizendo: “Isso deve ser bom.” E lá ia eu.

Numa dessas, ela me apresentou o “Christmas Pudding”. Considerei que estávamos na semana do Natal; a família reunida... pensei: faço dia 23 e comemos na ceia do dia 24. Perfeito! A sobremesa estava garantida.

Passei os olhos na receita e verifiquei que todos os ingredientes entre frutas secas, especiarias, até baunilha em favas eu podia encontrar na dispensa da casa da minha mãe: 38 itens diferentes! Subestimei: tudo bem são muitos ingredientes, mas como o bolo de mel, mistura-se tudo e coloca-se para assar.

Sem me ater a detalhes, comecei:

1 xícara e ¼ de maças verdes sem casca raladas na hora

22 gramas de cravo levemente triturados em pano fino

gemas passadas na peneira uma a uma ao menos três vezes

uma pitada de ...

Cada ingrediente tinha suas medidas especiais; formas diversificadas de picar, ralar, moer...

E eu ainda continuava a pensar: mas vai valer a pena!

Preparei os 38 potinhos com cada ingrediente... e me deparei com:

Misture 2/3 das gemas vigorosamente com metade do açúcar; 1/3 das gemas, deite suavemente sobre ¼ da baunilha repousada por 12 minutos em parte das avelãs moídas...

E assim foi!

Ufa! Só pode ficar M-U-I-T-O B-O-M.

Quase exausta, bastante tempo depois, pensei: pronto, misturei tudo!

Quando li: – sabe aquelas letras miúdas dos contratos! - despeje a massa suavemente numa forma redonda de inox de 22,5 cm de diâmetro e 10 cm de profundidade, untada com manteiga sem sal em temperatura ambiente e polvilhada com açúcar mascavo peneirado (trigésimo nono ingrediente), deixando 1.5 cm abaixo da borda.

Vede hermeticamente com papel alumínio. Use uma caçarola alta, com um prato emborcado no fundo, a forma de inox por cima e água fervente até a altura da massa. Cozinhe em banho-maria por 12 HORAS-SEM-DEIXAR-A-ÁGUA-BAIXAR!!

Podem imaginar quantas palavras impublicáveis eu disse.

Coloquei no fogo as 13h30 e avisei a todos, que quem quisesse dormir que o fizesse durante o dia, pois a uma e trinta da manhã teríamos a ceia do dia 23. Detalhe: deve ser servido quente e levado a mesa flambando em conhaque.

Arrumei uma banqueta alta ao lado do fogão, um livro e minha santa paciência.

É delicioso. Minha avó adorou, mas juro da minha cozinha outra vez: esqueça!


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