Romeu e Julieta



Verona é a cidade de Romeu e Julieta. Acontece que sempre que vou até lá é a trabalho. Mal tenho tempo de curtir o lado shakespeariano que paira no ar. No máximo consigo sentar –me em algum restaurante em frente à praça da Arena no final da tarde para uma taça de vinho e “dolce far niente”!

Como todo lugar que visito muitas vezes, acabo conhecendo uma quitanda que gosto muito; uma lojinha de aviamentos; um restaurante freqüentado quase que exclusivamente por habitantes locais... Um grande mercado afastado uns vinte quilômetros do centro da cidade, que tem seu charme – não diga shopping center que os italianos vão esfolar que o disser, embora se pareça com um!

Numa dessas vezes, minha mãe estava comigo e como sempre às vésperas de voltar para casa, precisava de mais uma mala! Num final de tarde frio fomos até um destes distantes mercados.

Buscar, olhar e comprar especiarias ou alimentos regionais ou simplesmente observar o que as pessoas colocam em seus carrinhos de compra, consome boa parte do meu tempo.

Enquanto pagava pela tal mala ouvimos anunciar que o mercado iria fechar dentro de dez minutos. O motorista de taxi que havia nos levado até lá não poderia ir nos buscar, mas forneceu o cartão com o telefone da cooperativa dele para chamarmos por um. Sem um ponto de taxi na porta do mercado e estando no meio da estrada, procurei um telefone público; celulares brasileiros ainda não funcionavam do outro lado do Atlântico! O primeiro telefone estava quebrado; o segundo consumiu meus créditos e não completou a ligação! O terceiro também estava quebrado. Apelei para uma senhora que tinha um celular: sem bateria!

Entrei em uma lanchonete que encerrava suas atividades: impossível ela me vender um cartão, o caixa já estava fechado e travado. Insisti para ela conseguir ligar para mim. Ela concordou, porém devia aguardar ela terminar o fechamento e então levar-me ao escritório da empresa no andar de cima, quando olhei para minha mãe quase em pânico: a imensa grade de ferro na entrada que dava para o pátio de estacionamento e única saída, baixava lenta e ruidosamente, com todas as lojas já fechadas e as luzes dos corredores se apagando. Eu já subia uma larga escada em caracol acompanhando a funcionária que se dispunha a me ajudar quando gritei para minha mãe que abrisse a porta de vidro e se posicionasse em baixo da grade que descia. Tinha certeza que ela iria parar. Ao mesmo tempo observava o patrão da gentil moça esbravejar com ela por estar tentando me ajudar àquela hora da noite!

A grade parou de descer e fiquei aguardando pelo que eu esperava que acontecesse: do largo e longo corredor que juntava as lojas: surgiram três homens correndo, com seus rádios em punho vociferando algum impropério em italiano, que de nervoso não identifiquei e queriam saber o que fazia minha mãe impedindo o fechamento da porta. Ela sem entender nenhuma palavra em italiano olhou para mim no alto da escada – nesta altura ela já havia me promovido a “muito sossegada”. Eles olharam também e pedi um taxi. Eles praguejaram muito e pouco depois jantávamos em nosso hotel lautamente uma maravilhosa pasta com frutti di mare, com muito vinho nacional e rindo a largo!

Verona, Itália

1 comentários:

Márcia disse...

Olá. Eu cheguei por acaso ao seu blog e achei muito interessante! Uma curiosidade... tenho uma aluna com o sobrenome Uchôa, será que tem alguma familiaridade? Bem, meu e-mail é mbmuzzi@ig.com.br. Abraços e parabéns
Márcia

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