Cachoeira

Viajar de primeira classe ou de classe executiva é sempre uma alegria. Ainda mais quando se ganha e de forma tão inesperada.

Por um motivo qualquer a Varig fez confusão com a passagem da minha mãe e a minha, isso há uns anos atrás. Na hora do embarque para a Alemanha descobrimos que haviam trocado nosso destino ou algo assim. Reconhecido o fato pela companhia aérea, eu tratei de ficar calma. Tínhamos as passagens em mãos e agora o problema era deles. Claro que perto do horário do embarque o vôo estava lotado e desfazer a troca, tornava-se impossível. Eu naquela hora estava sentada em uma cadeira de rodas, por um problema que tinha no joelho e deixei que eles tratassem de dar a solução. Minha mãe vendo minha tranqüilidade, nem questionou.

A proposta foi nos enviar primeiro a Espanha e depois nos embarcar para a Alemanha, de lá, numa classe muito melhor que a que havíamos comprado. Pressa nós não tínhamos, além do que viajar com mais conforto, tratamento vip é sempre melhor.

Resolvido isso, aproveitamos. O bom da viagem começava na sala de espera exclusiva com bebidas, comidinhas e muito entretenimento.

Como sempre estas classes são as primeiras a embarcar e eu naquelas condições ainda tinha o status de prioridade...

Nem bem havíamos nos acomodado nas nossas largas e confortáveis poltronas, os simpáticos comissários já nos ofereciam champanhe em taças de cristal e não água em copos americanos de plástico; amêndoas e pistaches em pequenas louças de porcelana. Os poucos lugares foram ocupados rapidamente e os muitos passageiros da classe turística demoraram a embarcar, se acomodar; acomodar a montanha de bagagem que carregavam nos compartimentos acima das suas cabeças, a ponto que tivemos tempo de tomar uma segunda taça de champanhe antes das portas do avião ser fechadas e os serviços suspensos temporariamente.


(Um pequeno aparte aqui quanto às bagagens: meu sonho de consumo é viajar sempre só com minha pequena bolsa Chanel , o passaporte, o cartão de crédito, algum dinheiro em papel, o batom e o casaco dobrado sobre o braço. Só!)


Estávamos na terceira e última fila de poltronas. Tudo adequado, avisos todos dados, começava a viagem. O avião fez lá sua manobras, rodamos lenta e irritantemente pela área de trânsito das aeronaves até nos colocarmos naquela fila, que quanto mais perto da meia noite parece maior. Avançávamos um pouco cada vez que um avião decolava e eis que chega a nossa vez. O comandante posicionou o avião na pista, deu seus últimos avisos, acionou os motores. Nossos corpos com a velocidade colaram no encosto das poltronas e começamos a inclinar para subir.


Pensei: muito bom! Europa aqui vamos nós.

Com todo o barulho que há numa decolagem, conseguimos perceber um som atípico dentro do avião. E detalhe: ele vinha lá da frente em nossa direção e aumentava, acima das nossas cabeças. Era um som continuo de um rolar pesado, que não tardou a parar quando encontrou o final do curto bagageiro livre e sem divisórias, num som forte e de mais de um objeto se quebrando. Isto tudo muito rápido e naquele momento em que é impossível fazer qualquer coisa, devido à posição do avião.

Minha mãe e eu nos olhamos e nada. Poucos segundos e uma “farta cachoeira” começou a descer por todos os vãos do fundo do bagageiro, molhando a todos que estavam na última fileira de poltronas. Rimos de pensar em passar as próximas horas molhados, e sabíamos que o que quer que fosse, pararia logo de escorrer. Então sentimos o cheiro do líquido: Cachaça!! Algumas garrafas que o desavisado alemão sentado lá na frente pretendia levar de presente! Soubemos assim que ele pode desafivelar o cinto e vir morrer de pedir desculpas.

A noite continuou com muito champanhe na taça, boa comida e cheiro de cachaça na roupa!

4 comentários:

Anônimo disse...

Caríssima Karina, boa tarde.

É sempre prazeroso ler o Caderninho de Viagem e, claro, muito divertido.

Forte abraço,

Pascale

Anônimo disse...

OI karina...

Sempre leio com muito carinho tue caderninho de viagem...adorei a historia de Florenca.
m beijo meu
Silvia Thaler Wagner

Anônimo disse...

Silvia Querida!
Que bom ter você como leitora.
Quanto a história de Florença, naturalmente que você goste, pois é personagem!!
Vou publicar outras, do tempo em que você vivia em Florença e eu em Munique.
Precismaos no encontrar novamente aí na Alemanha e produzir histórias como a de passear perto de Stuttgart tomando sorvete com sua filha Sara.
Saudades

Karina

Anônimo disse...

Tempos bons o da Varig, vc q aprecia uma boa bebida deve ter se deliciado com a champanhe. Viagem agradável! bijus.Ana

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